terça-feira, 16 de outubro de 2012

Dinheiro: Benção ou Maldição? - Por Dr. Russel Shedd

   Dinheiro: Benção ou Maldição?

Por Dr. Russel Shedd

Paulo afirma que o amor ao dinheiro é raiz de todos os males (1Tm 1.10). Por que será que nenhuma sociedade escapa dos grandes males criados pelo sucesso? A resposta estaria no fato que o narcisismo acaba minando todos os valores. O servo dessa preocupação com nosso bem-estar é o dinheiro, que tem a força para nos captar em sua rede, do mesmo modo que um animal é capaz de tirar sua própria perna para se libertar de uma armadilha.

Não ignoramos que o dinheiro é um valor que pode abençoar quem recebe ou dá. Paulo escreveu em sua Segunda Carta aos Coríntios sobre a importância do dinheiro para socorrer os necessitados (caps. 8 e 9).

Queremos entender melhor o que a Bíblia tem para nos dizer a respeito dessa tão útil e perigosa ferramenta, que pode tanto fazer o bem como o mal.
A bênção do dinheiro
Quando Deus criou o homem, abençoou-o e deu a ele o privilégio de dominar, mas sempre como mordomo do Senhor (Gn 1.28). Após a queda, o desejo pelo domínio cresceu e rapidamente a humanidade se esqueceu da responsabilidade de usar as coisas materiais para a glória de Deus e para o bem de todos.

Quando Jesus ensinou que é mais abençoado dar do que receber (Atos 20.35), não é dito que é necessário receber primeiro para poder dar. A fonte de tudo que recebemos é Deus. Sua generosidade se manifesta todo dia em que ele providencia as condições para produzir suprimentos de toda espécie para manter a vida, além de tudo que seja útil para manter a proteção e conforto. Toda atividade econômica depende do Criador que supre as condições necessárias para realizá-la.


Deus nos criou para gozar de vida corpórea e espiritual. Posses devem sustentar a vida do corpo ― casa, alimento, transporte e fornecer mil outros produtos. Os livros que comunicam a verdade eterna às nossas mentes são apenas um exemplo. Paulo refere-se à bondade de Deus ao declarar para o povo de Listra, “não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria” (At 14.17). A bênção de Deus sobre o mundo material, em benefício do homem, é um sinal do amor de Deus por todos. Dinheiro fornece um meio eficiente para distribuir os benefícios doados por Deus e repassar a fartura para os necessitados.


Jesus confrontou o jovem rico com a surpreendente declaração de que somente vendendo tudo que tinha e dando o resultado aos pobres teria o privilégio de ser discípulo e ganhar a vida eterna (Mc 10.21). A bênção seria rejeitar o amor ao dinheiro e, em seu lugar, alcançar um amor real pelo próximo. O sacrifício material no tempo presente garantiria a bênção maior no futuro – “terás tesouro no céu”. O galardão que aguarda todos que ajuntam tesouros no céu é glorioso e seguro (aí não há ladrões, nem qualquer tipo de destruição de perda, Mt 6.20). “Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (v. 21).


Fica claro que a única maneira de mandar riqueza para o céu é usando dinheiro para beneficiar os necessitados; pode ser materialmente ou espiritualmente. Dar generosamente aos necessitados é o melhor de todos os investimentos. Seu retorno será grande e sua felicidade eterna.
A maldição do dinheiro
O apego aos valores materiais assedia a maioria dos homens. Possuir dinheiro e tudo que ele pode comprar dá satisfação e segurança. O desejo de adquirir mais do que necessitamos alimenta o egoísmo natural que faz parte do mundo que a Palavra de Deus nos proíbe amar (1Jo 2.15). O avarento não tem herança no reino de Deus (1Co 6.10). “O amor ao dinheiro é raiz de todos os males” (1Tm 6.10). Basta notar a frequência de notícias de corrupção nos altos escalões do governo para perceber que dinheiro é uma forte fonte de tentação.

A maldição das posses é muito sutil. Poucas pessoas reconhecem o seu perigo. A maioria pensa que ganhar mais dinheiro demonstra a bênção de Deus sobre a vida. Em alguns casos, é verdade. Mas, na realidade, a falta de dinheiro pode ser o caminho da bênção, porque humilha, rebaixando os homens ao nível de mendigos. Tornam-se dependentes da graça de Deus, e alvos do amor dos irmãos na fé. A maldição invade nossas igrejas se não há generosidade. A prática da igreja de Jerusalém não nos incentiva a cuidar dos órfãos e viúvas, mesmo diante da declaração que “religião pura e sem mácula” é cuidar dos órfãos e viúvas (Tg 1.27).


Um dos casos bíblicos mais impressionantes relata a consequência maldita da mentira de Ananias e Safira (At 5.1-11). Esse casal crente, da igreja de Jerusalém, vendeu uma propriedade. A avareza os levou a concordar em reter uma parte do preço e oferecer a Deus o resto. Mentiram, afirmando que a quantia depositada “aos pés dos apóstolos” era o valor total. O resultado foi a morte sumária dos dois. Por quê? Não foi porque não ofereceram tudo para o Senhor, mas porque mentiram, desejando apresentar-se mais desprendidos do que na realidade foram.


Outra surpresa na Palavra é descobrir que é possível distribuir todos os bens entre os pobres sem amor (1Co 13.3). Se assim for, não há proveito nenhum para o doador. Com isso, Deus quer nos ensinar que podemos dar com motivos errados. Sacrifício material, sem amor, não agrada a Deus e não acarreta benefício algum para o doador. Seguramente muitos filantropos oferecem somas grandes para acolher aos necessitados, mas eles não recebem nenhum proveito diante do Juízo do universo. Joan Kroc, herdeira da fortuna da cadeia mundial de lanchonetes McDonald’s, doou ao Exército de Salvação de San Diego, na Califórnia, 80 milhões de dólares. No juízo final, será revelado se a sra. Kroc terá algum benefício em troca dessa razoável oferta.
Conclusão
O privilégio de ser mordomos de Deus, pelo uso das riquezas deste mundo, deve nos segurar diante da tentação da avareza. A maldição do dinheiro somente se transforma em bênção quando o Espírito Santo produz o seu bendito fruto em nossas vidas. Esse fruto é amor e benignidade (generosidade) (Gl 5.22). Vence-se a maldição por meio do Espírito de Cristo que cria uma vida em benefícios dos outros, em lugar do narcisismo feroz.
 
(O Dr. Russel Shed é PhD em Novo Testamento pela Universidade de Edimburgo (Escócia). Fundou a Edições Vida Nova há mais de 40 anos e atualmente é consultor da Shedd Publicações. É missionário da Missão Batista Conservadora no Sul do Brasil e trabalha em terras brasileiras há vários décadas.)
FONTE: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=108)

Dons Espirituais - Por Pr. Caio Fábio

   Por Pr. Caio Fábio
Resposta Acerca aos Dons Espírituais...

Há pouco tempo atrás, o Pastor Caio Fábio foi questionado sobre a seguinte pergunta:
Biblicamente, como podemos entender o termo profecia, e qual a diferença dessa utilizada na igreja?
Por que o dom de Línguas é tão enfatizado entre os cristãos se na escala apresentada por Paulo esse dom não é o primeiro?
Aproveitando ainda de sua paciência, gostaria que o senhor explicasse se há algum sentido bíblico para algumas nomenclaturas usadas nas igrejas, como "liberação de perdão", "quebra de maldições", "culto de libertação", etc. 

O Pr. Caio respondeu de forma objetiva e primorosa. Segue sua resposta para nosso aprendizado: 
1. A profecia no Velho Testamento era tudo o que fosse profético: poderia ser algo que se anunciasse como profecia (falando do futuro); poderia ser algo que se anunciasse como Palavra de Deus ao momento (como na maior parte das falas dos profetas); poderia ser algo que carregasse uma profecia, mas que só seria percebida como tal, bem depois (por exemplo, as profecias dos Salmos).

No Novo Testamento a profecia carregava essas três naturezas; porém, tanto se expressava com outra linguagem profética — muito mais intimista —, como também, com outras designações e aplicativos, mais íntimos também. As designações: consolação, exortação e edificação (sendo que a maior parte da linguagem e do aplicativo vinha carregada do espírito da profecia, que é o testemunho de Jesus). Os aplicativos quase sempre se relacionavam a uma igreja, a indivíduos e, em alguns casos, à nação, ao mundo ou à História.

O Apocalipse fornece a linguagem profética que prevalecia naqueles dias, num mundo dominado por Roma, onde a comunicação profética acontecia por meios enigmáticos e simbólicos.

2. O dom de línguas é um pirulito da Graça. Paulo não só o põe no plano das edificações absolutamente pessoais, como também proíbe seu exercício público, caso ele não se manifeste interpretável; senão, diz ele, vira confusão e estimulo total à não-razão.

O dom de línguas sempre teve a tendência de ser feito maior do que ele é. Razões:

a) ele carrega mistério – e que menino não gosta de um misteriozinho?

b) ele é para edificação pessoal — e quem não gosta, até na carne, de expressar a todos o quanto se está sendo edificado pessoalmente?

c) quando o movimento pentecostal estabeleceu que o falar em línguas era “o sinal” de que alguém havia sido “revestido de poder”, então, quem queria demonstrar que havia recebido a “bênção”, tinha que falar em línguas; então, muita gente, pra não ficar “de fora”, aprendeu a falar. Daí você até saber onde a pessoa “aprendeu a língua” apenas por ouvir a construção de língua que ela apresenta. Às vezes posso dizer até a “denominação”.

Quero dizer o quê, com isso? Que não creio? Não! Digo apenas que, conquanto eu creia na contemporaneidade dos dons espirituais, mais de 90% do que “ouço” e me ponho a discernir são línguas “aprendidas”, que não nasceram de dentro para fora, pelo genuíno derramar do Espírito.

3. Liberação de perdão, quebra de maldições e culto de libertação são, todos, modas recentes. O culto de libertação é mais antigo no Brasil. Tem uns 80 anos, mas começou muito discretamente, não era esse mercado de hoje. As demais nasceram quando eu já estava na estrada como pastor fazia tempo. No Brasil, posso até dizer quem, onde e quando essas “grifes” começaram.

Creio que libertação não pode ter hora marcada, pois não depende de ninguém pra acontecer. Se marcar hora, é apenas porque tá na hora de passar a sacolinha, e não há hora melhor, que num culto de cura e libertação — especialmente quando se “propõe” uma barganha que relacione ambas as coisas ao ato de reconhecer quem é Deus, dando uma grana para o “Deus” do lugar.

As outras duas modas têm históricos diferentes. A liberação do perdão é extra-ordinariamente  idiota. Supõe que tal poder esteja sob o arbítrio humano; é uma versão vaticana e católica dos perdões concedidos pelos homens em nome de Deus. E a quebra de maldições devolve ao diabo o poder que ele já não tem, que lhe foi arrancado na Cruz.

E mais: o diabo adora se sentir o responsável por tudo. Enquanto a gente o responsabiliza, a gente não se enxerga; e enquanto a gente não se enxerga, a gente não é curado... E assim segue a humanidade... Repetindo a mesma cultura, cultuando as doenças dos pais e sempre atribuindo àquilo que é mais psicocultural que espiritualmente diabólico, o valor de um carma imposto pelo diabo.

A maioria das maldições hereditárias são ou males genéticos — digo, constitutivos —, ou são males do sistema cultural-familiar; e só serão “quebrados” num processo de desmobilização dos agentes culturais do sistema, enxergando as coisas como elas são, dando-lhes nomes apropriados, retirando-os da engrenagem e quebrando o fluxo daquela prática em nossas próprias vidas, a fim de que ela não siga seu malévolo caminho – não somente nos destruindo, mas ainda atingindo os que geramos.

A liberação de perdão é filha da ignorância de quem não entendeu ainda Mateus 5 e 18 e, menos ainda, 2ª Coríntios 2. É preciso não entender mesmo os desígnios de Satanás, pra poder oferecer a ele um prato tão cheio.

(O Rev. Caio Fábio é atualmente o presidente do Caminho da Graça, que tem sede em Brasília. Foi um dos maiores líderes evangélicos da década de 80 no Brasil. foi fundador e presidente da AEVB. É autor de centenas de livros.)
Fonte: http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=00373